SOUZA: O MAIOR PILOTO DE TODOS OS TEMPOS Episódio 5: Independência, amor e tragédia

 

Como ainda estamos no “modo abstinência” de velocidade, continuo acelerando na escrituração da minha obra literária, que está bombando cada vez mais na web (Tenho tido conversas interessantes com a direção do Nobres do Grid apenas em respeito aos meus leitores). Relembrando que trata-se de uma obra de ficção onde qualquer semelhança com fatos, datas ou nomes não passam de mera coincidência.


Episódio 5: Independência, amor e tragédia

No final do episódio anterior, vimos que o balzaquiano (acho que no caso dele o parâmetro é aceitável) Adilson Souza começava a questionar os grilhões familiares que o prendiam, mesmo ele sendo o melhor piloto da Moto Mundial, fato que estava se consolidando com a aposentadoria de seus principais adversários, seus passos – rigidamente controlados pela família, a assessoria de imprensa e os interesses comerciais em torno de sua imagem – estavam a ponto de começarem a mudar.

O aparecimento de Mariane Dorotheu, a bela jovemzinha que trabalhava como promotora de eventos, com quem ele iniciara um namoro começou a provocar efeitos sobre o comportamento do nosso herói das pistas, que via de regra agia muitas vezes como uma Primadonna, posicionando-se contra tudo e contra todos e onde a ética era frequentemente questionada estava sofrendo uma transformação a olhos vistos. Aquele indivíduo pragmático e de movimentos calculados estava mudando.

O ar jovial e o comportamento de Mariane – lentamente e de forma suave – estava deixando Adilson Santos “mais humano”, mais sociável, mais bem resolvido, mais ciente do que ele é (...) Quando ele começou a realmente falar “é isso que eu quero, é isso que eu vou”. Né? Porque antes ele abria a mão de tudo “pra fazer uma coisa”. Enfim... Ele estava aceitando fazer outras coisas, estava mais “relaxado” e isso ajudou muito no ano em que tinha que competir contra Croissant Reux com uma moto bem inferior e ainda via o surgimento de uma estrela crescente, o alemão Rafael Chucrutz, que era rápido, arrojado e abusado, a ponto de tirar nosso herói do sério mais de uma vez.


Se no ambiente da Moto Mundial o “Adilson Souza relaxado, desencanado e independente” estava sendo visto com bons olhos, essa mudança de atitude não estava agradando em nada a família do piloto, que controlava todos os seus passos e atos (companhias, inclusive) até o aparecimento de Mariane. Uma coisa era um moleque de 20 anos se rebelar para ir em busca de seu sonho em se tornar piloto, outra coisa é um homem de mais de 30 anos, idolatrado em todo o mundo, que estava dando passos de forma independente e fora do controle familiar, fazendo suas próprias amizades, conhecendo novas pessoas e – o mais importante – exibindo um ar de felicidade e sorrisos naturais, longe dos passos programados em seu script.

A melhor notícia – profissional – ainda estava por vir: Croissant Reux anunciou que iria se retirar das corridas e depois de alguma negociação Adilson Souza iria transformar em realidade o sonho que foi seu pesadelo por dois anos: ele iria correr no ano seguinte novamente naquela que era a melhor equipe do grid, que daria a ele a chance de voltar a ser campeão mundial e a dominar as corridas ao longo da temporada sem ter que contar com adversidades dos adversários, mas uma “nuvem negra” pairava no céu e se aproximava. O Bávaro Rafael Chucrutz era um “joelho de porco com cartilagem dura” e vinha crescendo como pedra na sapatilha de Adilson Souza. Os dois andaram se envolvendo em algumas situações e a coisa quase descambou pra pancadaria.

Não bastasse o crescimento do Chucrutz, o que parecia vir a ser o melhor dos mundos deu uma guinada radical: a gestão técnica da Moto Mundial tomou uma decisão que alterar o regulamento da categoria para o ano seguinte, obrigando todas as equipes a praticamente partirem da estaca zero para construírem as motos da temporada seguinte. Todas as equipes construíram suas novas motos e quando vieram os testes pré-temporada a gigantesca vantagem que a equipe de Adilson Souza tinha, havia sumido.

Quem segurou a barra nesse momento difícil foi Mariane Dorotheu, que sempre estava ao lado do nosso piloto. A relação deles estava cada vez mais forte, com eles sendo vistos juntos a todo momento e ela estava praticamente morando com ele com pouco menos de um ano de convívio, para contrariedade da família Souza dos Santos, que tinha cada vez menos controle sobre os passos do filho famoso, cada vez mais independente.

Aquela nova temporada começou mostrando que a vida não seria fácil para Adilson Souza. Sua moto não era mais a melhor do grid e seu principal adversário, o novato da Bavária, Rafael Chucrutz, já estava perfeitamente adaptado à categoria. Tinha uma excelente moto e seria um duríssimo rival ao longo do ano. Tentando “andar mais do que a moto”, Adilson Souza acabou não terminando as duas primeiras corridas da temporada, vencidas pelo novo desafeto. Não bastasse isso, a família declarou guerra contra Mariane Dorotheu e decidiu criar qualquer situação possível (lícita ou não, ética ou não) para afastar os dois.

Então veio a terceira corrida da temporada. A bruxa estava solta naquele final de semana e na sexta-feira o novato compatriota de Adilson Souza, Zezinho Caramello, bateu forte em uma barreira de proteção e foi parar no hospital. No sábado as coisas ficaram piores: o austro-húngaro Egmont Crachemberger bateu e veio a falecer. O clima estava pesadíssimo nos boxes, mas os pilotos foram para a corrida assim mesmo. Adilson Souza largou na frente e era perseguido por Rafael Chucrutz quando o pior aconteceu: nosso herói escapou em uma curva de alta, bateu forte em um muro de concreto sem proteção de pneus e provocou a interrupção da corrida.


O acidente foi feio. Adilson Souza foi socorrido na caixa de brita da curva pela equipe médica, mas seu corpo estava imóvel. Depois de alguns minutos ele foi levado de helicóptero para o hospital mais próximo. Infelizmente as lesões foram extremamente graves e nosso grande ídolo acabou por falecer, deixando todo o meio esportivo, todo o mundo, e em particular o seu país, em profundo luto.

Não percam na semana que vem, o Episódio 6: A insana idolatria e a deturpação da história.

Felicidades e velocidade,

Paulo Alencar

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